Rui Rocha
Professor, escritor, poeta.
Rui Manuel de Sousa Rocha, descendente de famílias macaenses, nasceu em Lisboa em 1948 e mudou-se para Macau em 1983, onde reside até hoje.
É formado nas áreas da Sociologia, Antropologia e Educação Intercultural.
Veio para Macau, em 1983, para participar na criação do Serviço de Administração e Função Pública. Pertenceu ao Grupo de Ligação Conjunto Sino-Português (1990 a 1994), na área da Localização dos Quadros e na Promoção do Putonghua [mandarim]. Foi diretor do Gabinete do Ensino Superior (1994-1998), da Fundação Oriente (2000-2009), do IPOR (2009-2012,) e, finalmente, diretor do Departamento de Língua Portuguesa e Cultura dos Países de Língua Portuguesa, o qual criou, na Universidade da Cidade de Macau (2012-2017). Atualmente, Rui Rocha é presidente do Centro de Estudos e Inovação sobre Economia Azul na Região da Grande Baía.
Para além de dirigente das referidas instituições públicas e privadas de Macau e docente no ensino superior, Rui Rocha tem obra publicada em vários áreas do saber, incluindo história e cultura da Ásia, com incidência nas culturas chinesa e japonesa. Nesse sentido, tem colaborado assiduamente na Revista Macau do Governo da RAEM e em língua portuguesa. Redigiu vários verbetes, entre eles "o Chá", para o DITEMA - Dicionário temático de Macau / Thematic Dictionary of Macau (Univ. de Macau, 2010).
Por influência familiar, conviveu de perto com a cultura e a poesia chinesa e japonesa, e em 2012 tornou comum a sua própria poesia reunida no título A Oriente do Silêncio: poemas (Lisboa: Esfera do Caos), a que se seguiu em 2016, Taotologias (Fafe: Labirinto).
pensei nas palavras
como poderia pensarnum ato, num cheiro,qualquer pequeno prodígioque abrisse aquela portainexplicável e indesejavelmentefechada da poesiaA oriente do silêncio, 2012
todo o lugar é um lugar vazionem as árvores nem as pessoasfarão menos vazios esses lugares
o olhar de hoje será diferentedo olhar de amanhãcomo dos dias que se seguem
contudo tudo continuará vaziotão vazio como a morte de um deusque nunca existiu
Taotologias, 2016
um velho ramo de árvorebalança na brisa do rioa tarde esconde o canto das aves
Taotologias, 2016
nada digas do verão azedogravado no coração da laranjaas sobras da casca servem para doce
Taotologias, 2016
entre a espada e a cruz naveganteshá um vermelho mar salgadoque mastiga as torturadas palavrassangrando ainda nas costas do impérioas sombras negras, índias ou mestiças
Taotologias, 2016
no salgado aroma da tardesaúdo os teus olhosante a solidão do mara tela branca dos teus dedosenlaça as polifónicas palavrasna memória lenta do crepúsculo
Taotologias, 2016
Leituras:
Em Rui Rocha, neste seu livro de poemas encontro ambas as tradições, da meditação chinesa, ou dos Haikai do Japão. Ele escolhe Bashô, como mentor, eu lia Issa e outros. Meditava sobre a beleza dos caracteres, em livros de arte, em que também o poeta Henri Michaux se inspirou, em muitas das suas obras. O fascínio era o da imagem, pictórica, e da ideia ou conceito que em si mesma encerrava. O grande prazer (e a grande lição) que se retira da espiritualidade chinesa, neste caso, é o da relação com um cosmos que nos inclui, a partir de uma entrega feita de simplicidade e despojamento, perante os factos da vida: pessoal, social ou até mesmo política. Em todos eles a relação com o cosmos está presente. E o mistério, que é o caminho do TAO, reside apenas e só nesse entendimento, interior, profundo.[...] Dado o tom, podemos continuar a leitura, que já sabemos terá de ser feita de meditação, e não apenas de folhear rápido das páginas. Retomam-se imagens como a da lua, e a noite irá encher-se de presenças, de ausências, de perfumes de criaturas amadas.Yvette Centeno, in Literatura e Arte
“A poesia de Rui Rocha sugere, tal como acontece com a fluidez e plasticidade da caligrafia chinesa, a visibilidade dos sentidos do que se contempla mas não pode ser inteiramente expresso.
É um relato sensível do aqui e agora do lugar.
É essencialmente o estar que transcende a dimensão do texto, reservando um espaço para o silêncio entre as palavras, o tecido intersticial que afinal confere sentido ao próprio texto.
Desta obra emerge uma poética do branco, a cor do enigma, e da luminosidade personificada pela lua cheia tão ao gosto dos poetas da China e do Japão.”In: netbooks
Para saber +
[audio, 17:18], in Português, 11.12.2019.
Acerca das suas raízes familiares, vinda para Macau, etc. - Excelente!
CENTENO, Yvette - Rui Rocha A Oriente do Silêncio,
in blogue Literatura e Arte, 27.11.2016.
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MATEUS, Victor Oliveira - O Oriente e o Silêncio na Poesia de Rui Rocha,
in Revista de Cultura/Review of Culture, International Edition, Macau, n.º 44 , III série, 4.º Trimestre (2013), p. 58-63.
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MATEUS, Isabel Cristina - Taotologias de Rui Rocha: uma poética do instante e do silêncio,
in RCI, n.º 61 (2019), 137-145.
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FARIA, Alexandre Graça & Beatriiz Pérez - Estratégias literárias em Rui Rocha,
In Zi Yue, ano 2, vol. 2, n.º 1 (2022), p. 7-21