11/11/2018

A (nova) arte poética insular de Henrique Levy



Como uma incandescente luz surgida entre as brumas sobre o mar,
o poeta anuncia os dias por chegar...
H. Levy, Diário Íntimo

POETA



em mim só existo eu, não há lugar para outros de mim, essa impiedade atormenta os poetas que se extinguem depois de cada verso, enfrentando dias urgentes, repletos de silêncios...

ansioso por palavras, nascidas na sombra do instante, vacila o poeta em repetir orações no extenso olhar demorado pelo rosto da ilha...

de incoerência eterna, o poeta disfarça a poesia, animando-a da vida dos dias por viver, atordoa o futuro poisando nele um véu de tule lilás

e tudo parece adormecer...

acordam lentamente os tesouros de silêncios, estremece a inesperada vontade de partilha, encoberta pelo cintilar de sombras onde a luz vagueia...

pela boca respira o poeta o amargo ar atlântico em cujo inverno se deita, sucumbindo ao singular cansaço do vento a soprar forte por entre a solidão dos vulcões e a inconstância incompreendida do espaço...

o improvável homem, legítimo descendente do imaterial momento da palavra inaugural, reside neste convento onde as mãos não saram feridas, nem trazem vontade de chorar sobre as areias escuras chegadas do alvoraçado mar...

HENRIQUE LEVY


In : O Rapaz do Lilás. Ribeira Grande, Ilha de São Miguel, Açores: Confraria do Silêncio, 2018, pp. 23-24.


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