Como uma incandescente luz
surgida entre as brumas sobre o mar,
o poeta anuncia os dias por
chegar...
H. Levy, Diário Íntimo
POETA
em mim só existo eu, não há lugar
para outros de mim, essa impiedade atormenta os poetas que se extinguem depois
de cada verso, enfrentando dias urgentes, repletos de silêncios...
ansioso por palavras, nascidas na
sombra do instante, vacila o poeta em repetir orações no extenso olhar demorado
pelo rosto da ilha...
de incoerência eterna, o poeta
disfarça a poesia, animando-a da vida dos dias por viver, atordoa o futuro
poisando nele um véu de tule lilás
e tudo parece adormecer...
acordam lentamente os tesouros de
silêncios, estremece a inesperada vontade de partilha, encoberta pelo cintilar
de sombras onde a luz vagueia...
pela boca respira o poeta o amargo
ar atlântico em cujo inverno se deita, sucumbindo ao singular cansaço do vento
a soprar forte por entre a solidão dos vulcões e a inconstância incompreendida
do espaço...
o improvável homem, legítimo
descendente do imaterial momento da palavra inaugural, reside neste convento
onde as mãos não saram feridas, nem trazem vontade de chorar sobre as areias
escuras chegadas do alvoraçado mar...
HENRIQUE LEVY
In : O Rapaz do Lilás. Ribeira Grande, Ilha de São Miguel, Açores: Confraria do Silêncio, 2018, pp. 23-24.
Excelente!
ResponderEliminarParabéns!