O título deste verbete é indiscreto e não corresponde, exatamente, ao seu conteúdo. Fui "tocado" pela existência de papel deste Poeta, por essa espécie de música que é toda a poesia - para usar expressões utilizadas por ou sobre os poetas Al Berto e Eugénio de Andrade, tão caros a Joaquim Cardoso Dias, na escrita e na vida. É um esboço biobibliográfico, a anunciar mais leituras e releituras, o estar atento à arte escrita que se vai criando e partilhando, em papel ou nas redes sociais. Eis.
© Joaquim Cardoso Dias, in Malcata 7 Geografias
Sem mentir
e se caminhou nu toda a noite
pelo teto do quarto mas
eu tirei a roupa toda bebi água
e não te telefonei
qualquer coisa assim atirou-me de bruços
para o coração e lembrei-me
de te esquecer desde o começo
muito longe e alto nas escadas de incêndio
foda-se como acreditar que te amo
sem mentir
Joaquim Cardoso Dias
in Meditações sobre o Fim (antologia coletiva), 2012, p. 117.A VIDA
Joaquim Cardoso Dias, Poeta.
Imagem no perfil do Facebook, 15.05.2012
Joaquim Cardoso Dias, “Quim” para
alguns, nasceu em Junho de 1973, em Castelo Branco, e vive em Lisboa.
É licenciado em Sociologia.
Editou dois livros de poemas – O
preço das casas
(2002) e Pornografia comum (2015) – e colaborou em antologias, revistas e jornais, em Portugal e
no estrangeiro.
Destaca-se a coautoria, com poemas e fotografias, em Malcata 7
Geografias (2003) e na antologia
coletiva Meditações sobre o fim:
os últimos poemas (2012), em que foi convidado, juntamente com 37 poetas, a
meditar sobre a sua morte em três poemas como se estes fossem os últimos que
pudesse escrever ou transmitir na vida.

Conviveu
com os poetas Eugénio de Andrade, Al
Berto e Mário Cesariny e com Vergílio Ferreira, entre outros escritores, que
considera terem sido “todos eles seres humanos muito ricos e complexos mas
extremamente simples”, em contraponto a alguns escritores engalanados ou de
capelinhas literárias.
No ano em que se comemoraram 10
anos da morte do poeta Al Berto [1948-1997], Joaquim Cardoso Dias editou
alguma correspondência (10
cartas inéditas) do poeta e amigo, de um carteio-amizade que floresceu
entre 30 de junho de 1989 e 17 de abril de 1997, e que compreendeu “quase
duas centenas de cartas, postais, poemas, textos, recados, convites,
confidências, desabafos, conselhos e tanta solidão” (do prefácio, p. 10). Ao
organizar esta edição convidou dez
escritores portugueses contemporâneos que
aceitassem essas epístolas como mote para comentário ou escrita de textos em homenagem a Al Berto. Nas cartas trocadas com o amigo, o
autor de O Medo desnuda-se, dando a
conhecer ainda melhor os bastidores solitários e sofredores da sua existência
de papel.
O gosto pela fotografia de Joaquim Cardoso Dias já lhe
permitiu expor e publicar trabalhos fotográficos, como na exposição “Pequenos
olhares”, na Casa do Arco do Bispo em Castelo Branco, de 12 a 30 de abril de
1997, cujo conjunto de fotografias “escolheram falar de abandonos, ou de
cadáveres de histórias” (Sandra Augusto França), talvez cores que restam como
sinais da solidão e do deserto, dentro e fora das imagens.
Uma escrita secreta, a conhecer.
A OBRA
Poesia
- O preço das casas. Lisboa : Gótica, 2002.
- Pornografia comum. Lisboa: Gulliver, 2015.
Edição / Correspondência
- Dez cartas para Al Berto : dez cartas de Al Berto. - Org. e pref. de Joaquim Cardoso Dias; com textos de Alexandre Nave, Fernando Pinto do Amaral, Francisco José Viegas, José Agostinho Baptista, José Luís Peixoto, Luís Quintais, Nuno Artur Silva, Nuno Júdice, Tiago Torres da Silva e Vasco Graça Moura. Vila Nova de Famalicão: Quasi, 2007.
Obras coletivas
- Malcata 7 Geografias – com 10 poemas e 10 fotografias de JCD – Obra em coautoria com Pedro Sena-Lino e José Mário Silva. Coimbra: Alma Azul, 2003.
- Meditações sobre o fim: Os últimos poemas – antologia poética [poemas de JCD: “Quarto escuro”; “Sem mentir”; “Pequeno poema”, p. 116-118]. – Lisboa: Hariemuj, 2012. – “Foram convidados 38 poetas para que meditassem sobre o “seu” fim em três poemas, como se fossem os últimos que pudessem escrever ou transmitir na vida.”: os poetas Alice Macedo Campos; Ana Hatherly; Ana Paula Inácio; Ana Salomé; António Gregório; Bénédicte Houart; Bruno Béu; Casimiro de Brito; Catarina Nunes de Almeida; Cláudia Lucas Chéu; Duarte Braga; Filipa Leal; Hugo Milhanas Machado; Inês Fonseca Santos; Inês Ramos; Joana Jacinto; Joana Serrado; João Barrento; João Bosco da Silva; João Camilo; Jorge Telles de Menezes; Jorge Vicente; Leila Andrade; Maria do Sameiro Barroso; Maria Sousa; Nicolau Santos; Nuno Brito; Pablo Javier Pérez López; Pedro S. Martins; Raquel Nobre Guerra; Ricardo Tiago; Rodrigo Miragaia; Romério Rómulo; Rui Almeida; Sylvia Beirute; Tiago Néné; Victor Oliveira Mateus. (site da Ed.)
Para saber mais:
- Quatro poemas de Joaquim Cardoso Dias, in blogue Bibliotecário de Babel, de José Mário Silva, 10.01.2016.
- Três poemas – “Quarto escuro”; “Sem mentir”; “Pequeno poema” – publicados em Meditações sobre o fim: Os últimos poemas, antologia poética (Hariemuj, 2012); reproduzidos no blogue Pequenos animais sem expressão, 18.07.2014.
- “Joaquim Cardoso Dias”, post com textos de JCD e fotografias de Amadeu Baptista, in blogue Amadeu Baptista, 14.11.2011.
- SILVA, José Mário – “À flor da boca”, crítica publicada na revista E, do semanário Expresso e reproduzida in blogue Bibliotecário de Babel, 14.01.2016.
- VENTURA, Ruy – “Al Berto e Joaquim Cardoso Dias: vislumbres de uma amizade”, recensão crítica de Dez Cartas para Al Berto: Dez Cartas de Al Berto - org. Joaquim Cardoso Dias (Vila Nova de Famalicão: Quasi, 2007), in O arquivo de Renato Suttana, s/d.
- Paulo – “palavras que nos inquietam ::.. 10 citações de/para Al Berto”, in blogue Felizes Juntos, 10.04.2008.
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