01/01/2016

JULGUE UM LIVRO PELO SEU CONTEÚDO - ou as capas sem segredos das coletâneas poéticas de Joaquim Cardoso Dias

O título deste verbete é indiscreto e não corresponde, exatamente, ao seu conteúdo. Fui "tocado" pela existência de papel deste Poeta, por essa espécie de música que é toda a poesia - para usar expressões utilizadas por ou sobre os poetas Al Berto e Eugénio de Andrade, tão caros a Joaquim Cardoso Dias, na escrita e na vida. É um esboço biobibliográfico, a  anunciar mais leituras e releituras, o estar atento à arte escrita que se vai criando e partilhando, em papel ou nas redes sociais. Eis.

© Joaquim Cardoso Dias, in Malcata 7 Geografias


Sem mentir


ainda não sei se o amor esteve aqui de luz acesa
e se caminhou nu toda a noite
pelo teto do quarto mas
eu tirei a roupa toda bebi água
e não te telefonei
qualquer coisa assim atirou-me de bruços
para o coração e lembrei-me
de te esquecer desde o começo
muito longe e alto nas escadas de incêndio
foda-se como acreditar que te amo
sem mentir



Joaquim Cardoso Dias
in Meditações sobre o Fim (antologia coletiva), 2012, p. 117.




A VIDA

Joaquim Cardoso Dias, Poeta.
 Imagem no perfil do Facebook, 15.05.2012

         Joaquim Cardoso Dias, “Quim” para alguns, nasceu em Junho de 1973, em Castelo Branco, e vive em Lisboa.
É licenciado em Sociologia.



Editou dois livros de poemas – O preço das casas (2002) e Pornografia comum (2015)e colaborou em antologias, revistas e jornais, em Portugal e no estrangeiro.
Destaca-se a coautoria, com poemas e fotografias, em Malcata 7 Geografias (2003) e na antologia coletiva Meditações sobre o fim: os últimos poemas (2012), em que foi convidado, juntamente com 37 poetas, a meditar sobre a sua morte em três poemas como se estes fossem os últimos que pudesse escrever ou transmitir na vida.

Conviveu com os poetas  Eugénio de Andrade, Al Berto e Mário Cesariny e com Vergílio Ferreira, entre outros escritores, que considera terem sido “todos eles seres humanos muito ricos e complexos mas extremamente simples”, em contraponto a alguns escritores engalanados ou de capelinhas literárias.
No ano em que se comemoraram 10 anos da morte do poeta Al Berto [1948-1997], Joaquim Cardoso Dias editou
alguma correspondência (10 cartas inéditas) do poeta e amigo, de um carteio-amizade que floresceu entre 30 de junho de 1989 e 17 de abril de 1997, e que compreendeu “quase duas centenas de cartas, postais, poemas, textos, recados, convites, confidências, desabafos, conselhos e tanta solidão” (do prefácio, p. 10). Ao organizar esta edição convidou dez escritores portugueses contemporâneos que aceitassem essas epístolas como mote para comentário ou escrita de textos em homenagem a Al Berto. Nas cartas trocadas com o amigo, o autor de O Medo desnuda-se, dando a conhecer ainda melhor os bastidores solitários e sofredores da sua existência de papel.
O gosto pela fotografia de Joaquim Cardoso Dias já lhe permitiu expor e publicar trabalhos fotográficos, como na exposição “Pequenos olhares”, na Casa do Arco do Bispo em Castelo Branco, de 12 a 30 de abril de 1997, cujo conjunto de fotografias “escolheram falar de abandonos, ou de cadáveres de histórias” (Sandra Augusto França), talvez cores que restam como sinais da solidão e do deserto, dentro e fora das imagens.
Uma escrita secreta, a conhecer.

A OBRA

Poesia

 
  • O preço das casas. Lisboa : Gótica, 2002.
  • Pornografia comum. Lisboa: Gulliver, 2015.

Edição / Correspondência

  • Dez cartas para Al Berto : dez cartas de Al Berto. - Org. e pref. de Joaquim Cardoso Dias; com textos de Alexandre Nave, Fernando Pinto do Amaral, Francisco José Viegas, José Agostinho Baptista, José Luís Peixoto, Luís Quintais, Nuno Artur Silva, Nuno Júdice, Tiago Torres da Silva e Vasco Graça Moura. Vila Nova de Famalicão: Quasi, 2007.

Obras coletivas

  • Malcata 7 Geografias – com 10 poemas e 10 fotografias de JCD – Obra em coautoria com Pedro Sena-Lino e José Mário Silva. Coimbra: Alma Azul, 2003.
  • Meditações sobre o fim: Os últimos poemas – antologia poética [poemas de JCD: “Quarto escuro”; “Sem mentir”; “Pequeno poema”, p. 116-118]. – Lisboa:  Hariemuj, 2012. – “Foram convidados 38 poetas para que meditassem sobre o “seu” fim em três poemas, como se fossem os últimos que pudessem escrever ou transmitir na vida.”: os poetas Alice Macedo Campos; Ana Hatherly; Ana Paula Inácio; Ana Salomé; António Gregório; Bénédicte Houart; Bruno Béu;  Casimiro de Brito; Catarina Nunes de Almeida; Cláudia Lucas Chéu; Duarte Braga; Filipa Leal; Hugo Milhanas Machado; Inês Fonseca Santos; Inês Ramos; Joana Jacinto; Joana Serrado; João Barrento; João Bosco da Silva; João Camilo; Jorge Telles de Menezes; Jorge Vicente; Leila Andrade; Maria do Sameiro Barroso; Maria Sousa; Nicolau Santos; Nuno Brito; Pablo Javier Pérez López; Pedro S. Martins; Raquel Nobre Guerra; Ricardo Tiago; Rodrigo Miragaia; Romério Rómulo; Rui Almeida; Sylvia Beirute; Tiago Néné; Victor Oliveira Mateus. (site da Ed.)

 

Para saber mais:



Sem comentários:

Enviar um comentário